“Paixão!? Palavra curta, sentimento que não cabe mais dentro de mim.”, ela dizia. Se achava uma mulher experiente e com opinião formada quando o assunto era esse. Acreditava que já havia passado por decepções o suficiente na vida, e que todos os homens eram iguais. Besteira, já que ela nem conhecia tantos homens assim. A verdade é que o único que havia passado pela sua vida, não soube valoriza-la. Estranho, já que “eu não bebo, não fumo, não curto balada e nem ficar com vários caras, como ele pôde fazer isso comigo?”, dizia. Tão ingênua. Como se isso fosse grandes coisas. Não sabia nada da vida, e se machucou. Se machucou muito. Logo, barreiras dentro dela foram criadas, barreiras que ninguém conseguia derrubar. Até que ela o viu, numa manha ensolarada perto da praia. Só de olhar pra ele uma barreira se quebrou. Ela não o conhecia, mas no fundo sabia que seria diferente, já que ele, sem dizer uma palavra, conseguiu o que ninguém mais havia conseguido. Isso a assustou, e por isso ela guardou aquilo em segredo absoluto. Ela era tímida, nunca havia tomado iniciativa em nada quando o assunto era relacionamento, gostava de ser invisível. Já ele, bom, mesmo sem conhecê-lo sabia como ele era, em cidade pequena, todo mundo sabe um pouco de todo mundo, os assuntos correm e ele tinha uma certa “fama”.  Eles passariam uma semana no mesmo lugar, longe de casa, mas a probabilidade de algo acontecer, ao ver dela, era mínima. Pode-se dizer que nem havia probabilidade. E mais uma vez, tão ingênua. Acabou que numa noite qualquer, na areia da praia, simplesmente aconteceu o que ela menos esperava: ele a pediu um beijo. E dali em diante eles ficaram juntos o resto da semana. Uma semana que ela nunca esqueceu. Voltaram pra cidade onde moravam, continuaram se vendo por um tempo, mas se afastaram. Sem motivo algum. Depois disso, foi alertada sobre ele algumas vezes, mas já não fazia diferença, eles nem se viam mais. O tempo passou, e da mesma forma que se separaram sem motivo algum, voltaram a se ver. Só que era diferente. O sentimento era mais forte, e cada vez que ela o olhava nos olhos (olhos lindos) se lembrava do mar, onde tudo havia começado. Eles se viam sempre, conversavam sobre tudo e, ele virou seu melhor amigo. Os amigos dele se tornaram dela também, e até hoje ela tem um grande carinho por eles. Eles viajaram e conheceram lugares. Ele a apresentou lugares e juntos descobriram vários outros. Poucos sabiam deles, mas pra ela não importava, a única coisa que importava era viver. Ficaram nessa por muito tempo, até que a menina mulher que falava que não cabia mais paixão nela, estava tão apaixonada que chegava a transbordar. Pena que sentia sozinha, já que estava tão na defensiva que não conseguia demonstrar. Ela o entendia, e sentia que ele também a entendia, o que não é tão fácil. Eles tinham o mesmo senso de humor, um humor meio “pesado” por sinal. Ela brincava, ria, desabafava. Ele realmente era seu melhor amigo. Pra ela, ele era lindo, por dento e por fora, independente do quão “feio” ele se achava. Ela nunca acreditou que ele falava sério quando dizia que não se achava aquilo tudo. Ela o chamava de "meu bem", mas não era um simples apelido, "bem" era o que ele a fazia. Ela adorava quando ele a elogiava, ainda mais quando o elogio era resposta a um outro elogio que ela já havia feito, como: “você tem bom gosto”, “ainda mais pra mulheres”. Era tão boba, que isso era o suficiente pra ela ganhar o dia. Na verdade, só de acordar e ver que ele havia dado “bom dia” já era suficiente. Pra alguns, eles eram o casal perfeito, mas infelizmente, não existe nada perfeito.  E foi numa dessas que tudo acabou. Alguma coisa mudou e ele não sentia mais o mesmo, o que foi um susto pra ela, já que ela não esperava, porém, entendeu e respeitou a decisão dele. Doeu bastante, coisa que ela não esperava que acontecesse.
A princípio ela pensou que, se soubesse antes o que estava acontecendo, poderia ter feito alguma coisa pra não deixar que chegasse ao fim. Talvez, se ela fosse transparente quanto ao que sentia, tivesse mudado alguma coisa. Ou talvez não mudaria nada, mas pelos menos ela se sentiria melhor. Ela sempre acreditou que cada um escolhe de quem vai gostar, parar de gostar, e sempre foi do tipo que faz de tudo pra concertar, e não trocar. Mas, ela também sempre soube que não depende de uma pessoa só, e depois que voltou a se dar conta disso, por mais que sempre pense que poderia ter feito mais por eles, se sente menos culpada. Hoje ela sente falta, muita falta, e sabe que vai demorar um tempo pra acostumar com uma nova rotina “sem” ele,  mas é grata a todo esse tempo que passaram juntos. Uns falaram que foi perda de tempo, mas ela sabe que não foi. Pra ela foi ganho de tempo, ele é incrível. Ele é carinhoso, atencioso, sensível, sabe ouvir e realmente se importava com ela. Pra ela, foi ganho de tempo por ter passado com alguém que ela gostava e que pôde ensinar muito a ela.  Hoje ela aprendeu a valorizar cada momento sem se preocupar se vão saber ou não. Se deu conta de que não adianta se privar de sentir, isso sim é perda de tempo. Sabe que viver no passado não vai leva-la a lugar algum e que ela precisa dar chances as pessoas, e que, independente de as pessoas saberem ou não, se tiver que dar certo vai dar certo, e se não tiver que dar certo, não vai dar. Ele foi muito especial na vida dela, e independente do tempo, ele vai continuar sendo e ela só espera que a amizade que eles construíram com o tempo não se perca, assim como os outros sentimentos se perderam. Agora, ela ainda sente e vai precisar de um tempo pra parar de sentir, mas está tranquila, e a única coisa que ela quer é que eles, juntos ou não, sejam felizes.